quarta-feira, 24 de abril de 2013

Atitude é isto!

Você volta para casa, morrendo de fome e sede, num imenso mau humor, depois de um dia extenuante. Apanha o metrô, que está especialmente cheio, e tem que seguir em pé no vagão. Como consolo, à sua frente está sentada uma mulher linda, daquelas que merecem cada um de todos os olhares que atrai. Ao percebê-la, você se posiciona num lugar estratégico onde possa admirá-la tranquilamente, por sobre o livro, sem parecer mais um daqueles maníacos. Afinal, a viagem não precisa ser assim tão incômoda. O trem pára numa estação onde entra um senhor mais velho – ou melhor, muito mais velho – e não muito atrativo, para não dizer feio, muito feio. Por obra do bom acaso, cedem-lhe o lugar fora da área destinada a idosos – o que não é normal por aqui – e ele senta-se justamente do lado da bela. Mal se acomoda no assento, saca um celular antigo do bolso e o entrega à moça, dizendo palavras ininteligíveis. Essa, educada e prontamente, retira os fones de ouvido, pega o telefone e pede para que ele repita o que havia dito. Resolvo prestar atenção e acabo por ouvir a coisa mais insólita dos últimos dias:
- Você pode fazer-me o favor de apagar todas as chamadas feitas e recebidas nesse aparelho? É que tem uma jovem ligando-me insistentemente e minha esposa não confia em mim... Assim, gostaria de apagar tudo, mas como não sei fazê-lo...
A moça, num misto de admirada e polida, faz conforme o senhor lhe havia pedido e devolve-lhe o celular. Ele segue explicando:
- Ela não pára de telefonar-me; já me ligou mais de doze vezes. Como vou explicar à minha mulher?
Chega minha estação e saio do trem sem conseguir conter o riso. De súbito, porém, paro e penso: de um jeito ou de outro, aquele velhinho caquético está melhor que eu! Se está falando a verdade, ganha de mim porque não ando recebendo metade das doze chamadas diárias de uma jovem interessada; se mente, porque teve atitude e criatividade para inventar essa história em tão pouco tempo e conversar com aquela garota, em vez de que ficar apenas olhando, como eu fiz. É, meus amigos, tenho ainda muito que aprender nessa vida...

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